6 de julho de 2006

Guerra Civil

Guerra Civil




-Mônica, me diga algo interessante.

- Não estou a fim de falar.

- Ok, tenho uma boa parede para admirar. Ainda bem que casei contigo, assim tenho mais tempo pra saber quantos buracos terei que preencher com argamassa na casa.

-Também te amo, Cláudio.

-Que revista é esta que estás lendo?

-Nem sei. Estava folhando. É sobre cães, diz a capa.

-Interessante.

-Por que não compras uma meia nova? A tua está furada no calcanhar.

-Ela é quente. Gosto dela. Foi minha mãe quem me deu.

-Sempre achei ela ridícula. Agora sei por quê.

-Você implica tanto comigo...

-Implico com a tua empatia.

-Empatia?

-Apatia, desculpe.

-Ah...

-Hum...

-Cláudio, me alcança o cigarro e o cinzeiro que estão do teu lado.

-Toma.

-O isqueiro também.

-Aqui está.

-Obrigado.

-O que houve com teus seios? Estão grandes...

-Eles ficam assim todo mês, há quinze anos. Misteriosamente eu mênstruo depois.

-A Alemanha foi desclassificada. Achei que ia ganhar a Copa.

-Hum.

-Tens que ver o meu barbeador novo.

-Compraste?

-Sim, ontem. Achei que estava precisando. Toda vez que faço a barba com aquela coisa que me deste, e que chamas de barbeador, me corto.

-Que bom que gostou do presente.

-Gostei do presente. Mas não é eficiente. Meu barbeador funciona em qualquer tomada da casa.

-Que bom. Agora posso depilar as pernas com privacidade enquanto estou no banheiro. Só tem uma tomada, isto significa: você ou eu no banheiro.

-É.

- A propósito, você tem que depilar as pernas, estás parecendo uma macaca velha.

- Não tenho vontade.

-Já pensou que eu não gosto de pêlos? Me sinto comendo um homem.

-Já pensou que dá trabalho depilar as pernas todo santo dia?

-Você não depila as pernas todos os dias. Aliás, fazem duas semanas que não depilas as pernas.

-Não tenho vontade.

-Mônica, o que houve com a pata do teu óculos? Sentastes em cima?

-Não. Quando te jogastes no sofá ontem de noite, sem ver o que tinha embaixo, meus óculos ficaram assim. Não quis falar nada. Depois ele desapareceu. Fui encontra-lo escondido no teu bidê.

-Mônica, te amo.

-Eu também Cláudio, me amo bastante.



Jaque Machado